O camarada Hamma Hammami, porta-voz do Partido Comunista dos Operários da Tunísia (PCOT), expressou ontem seu ceticismo em relação ao novo governo de transição. Em declarações a Europe1, feitas da Tunísia, considerou que se trata de um “governo RCD”, nome do partido do ex-presidente Ben Ali, ao qual se somaram alguns membros da oposição legalizada e alguns membros da sociedade civil.
Hammami apontou que a cor do novo governo não reflete a vontade do povo que se levantou contra a ditadura e, pela primeira vez no mundo árabe, conseguiu derrotá-la. Ademais, considerou insuficientes as medidas já anunciadas, como a de liberar os presos políticos e de maior liberdade de imprensa, que qualificou de “pequenas”, já que assinalou, “a sociedade civil aspira a uma mudança democrático radical”, e se mostrou partidário de uma assembleia constituinte, que acabe com o antigo regime, e crê num novo sistema parlamentar.
Na mesma emissora, a porta-voz do Conselho Nacional para as Liberdades, Sihem Bensedrine, denunciou também a composição “extremadamente inquietante” do governo de transição. “São os arquitetos da ditadura, são incapazes de produzir outra coisa que no seja ditadura”, considerou.
A luta operária e popular desmorona o governo continuísta na Tunísia
A pressão popular e suas próprias bases forçaram ao sindicato único União Geral dos Trabalhadores Tunisianos (UGTT) e a dois das três formações toleradas pelo derrotado Ben Ali a distanciar-se do intento do antigo regime de comandar uma transição controlada. Comunistas, outros grupos de esquerda laica e islamistas, embora proibidos, insistem em exigir uma mudança política real. Milhares de tunisianos voltaram ontem a desafiar o estado de exceção e saíram às ruas para denunciar a composição do novo governo de “unidade nacional”, que, 24 horas depois de ser anunciado oficialmente, já registrava as primeiras renúncias e deserções.
A UGTT anunciou que não reconhece o novo Executivo de transição e ordenou retirar-se a seus três representantes no gabinete. O titular de Formação e Emprego, Hussine Dimassi, anunciou tanto sua renúncia como a de seus dos companheiros de sindicato, Abdeljalil Bedui (ministro adjunto do primeiro ministro) e Anuar ben Guewddur (adjunto do ministro de Transportes). Com meio milhão de filiados, o sindicato era um dos principais sustentáculos do derrocado regime. O levante deixou sua cúpula em arrepios, mas os militantes de base se somaram desde num primeiro momento aos protestos pressionando sua direção. A fuga do presidente deposto, Zine El-Abidine ben Ali, propiciou o giro da UGTT.
Na mesma linha, um dos três partidos tolerados pelo regime e ao que se reservou cadeiras no Executivo, o Fórum Democrático para o Trabalho e as Liberdades (FDTL), anunciou a renúncia depois de que seu líder e virtual ministro de Sanidad, Mustapha ben Jaafar, se reunira com o primeiro ministro.
Outro dos partidos legais, Ettajdid (ex-comunista), ameaçou renunciar aos cargos se não o fizerem todos os ministros ligados ao Reagrupamento Constitucional Democrático (RCD), do foragido Ben Ali, e exigiu o congelamento de todos os bens dessa formação e a dissolução de todas as “células do partido” implantadas nas empresas do país.
Estas formações, qualificadas de “oposição fantoche” pelos manifestantes, estão sendo forçadas a reagir pelo descontentamento popular, que vigia qualquer passo atrás no processo revolucionário, tanto com a pressão nas ruas de Túnez, Sfax, Sidi Bouzir, Reguev e Kasserine (estas três últimas bastiões da chamada Revolução do Jasmim), como a través de internet.
Os comunistas nas ruas: “seguimos na oposição e ao lado do povo tunisiano, que continua sua luta”
Não ocorre o mesmo com nossos camaradas do Partido Comunista dos Operários da Tunísia (PCOT), formação ilegal, cujo porta-voz, Hamma Hammami, alertou sobre a “fraude eleitoral” e assinalou que no apresentará candidatura alguma nas eleições presidenciais, prometidas para dentro de seis meses. O PCOT defende, entretanto, um regime parlamentarista, pelo qual apela para a formação de uma assembleia constituinte.
Sua companheira e advogada Radhia Nasraui, uma das figuras mais destacadas e perseguidas por sua defesa dos direitos humanos coincidiu em que “os tunisianos não lutaram todos esses anos e saíram às ruas nestas semanas para permitir um governo com ministérios cuja direção siga nas mãos dos homens de Ben Ali”.
Extraído de: www.mpd15.org.ec
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