No último dia 15 de janeiro, o Comitê Paraibano Memória, Verdade e Justiça organizou um dia inteiro de homenagens aos 50 anos da Resistência Camponesa de Mari. O pequeno município, que hoje conta com 22 mil habitantes, foi, à época, cenário de uma batalha campal envolvendo centenas de trabalhadores e um grupo de policiais e capangas dos latifundiários. Na ocasião, tombaram o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Antonio Galdino da Silva e os agricultores José Barbosa do Nascimento, Pedro Cardoso da Silva e Genival Fortunato Félix, todos assassinados por armas de fogo, inclusive metralhadoras e pistolas de uso exclusivo do Exército. Os camponeses, que lavravam pacificamente a terra, responderam ao covarde ataque com foices e enxadas, deixando do lado dos opressores um saldo de sete mortos.
Dois meses e meio depois, veio o golpe Estado no Brasil, que mergulhou nosso país no numa ditadura militar que durou 21 anos. O conflito produzido em Mari foi, portanto, mais uma das centenas de ações organizadas pelas elites brasileiras para tentar impedir a organização da classe trabalhadora e preparar a derrubada do presidente João Goulart.
Agora, tantos anos depois, mais de 200 militantes dos movimentos sociais se deslocaram de várias cidades da Paraíba e se somaram à população local para participar da extensa programação político-cultural. No primeiro momento, a concentração se deu no exato local onde aconteceu o crime, às margens da rodovia estadual PB-073, que atualmente leva o nome de João Pedro Teixeira, líder das Ligas Camponesas de Sapé (município vizinho), assassinado em 1962. Uma encenação foi realizada por companheiros do MST, seguida de uma celebração religiosa coordenada pelo padre Bosco, que é também presidente da Comissão Estadual de Direitos Humanos, e por dom Lucena, bispo da Arquidiocese da região.
Depois, todos se dirigiram ao Ginásio de Esportes, onde foi feita a abertura oficial do evento, com uma mesa composta por várias entidades e autoridades, como o prefeito Marcos Martins, o vice-presidente Câmara Municipal Edvaldo do Assentamento, o deputado estadual Anísio Maia, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais, MST, CPT, CUT, APES, UJR, Levante, Comissão Estadual da Verdade e Sindicato dos Jornalistas. Como momento mais importante da manhã, foram entregues homenagens aos familiares dos camponeses mortos, e o companheiro Antonio Augusto de Almeida, professor aposentado e histórico militante comunista, fez um detalhado relato dos acontecimentos de 15 de janeiro de 1964 e do contexto da luta de classes no campo no período que antecedeu ao golpe militar de 01 de abril.
Por fim, à tarde, uma bela passeata saiu do Ginásio em direção à sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, no Centro de Mari, puxada por uma batucada de jovens, um grupo de capoeira, muitas faixas e palavras de ordem. O ato parou a cidade, momento em que foi distribuído para a população um livreto de cordel, de autoria do escritor Medeiros Braga, narrando a história de Mari e da resistência camponesa. “Hoje foi um dia vitorioso para a luta pelo direito à memória, verdade e justiça no Brasil, um dia não ser mais esquecido em Mari e na Paraíba, resultado de sete meses de preparativos”, avaliou José Calistrato, coordenador do Comitê Paraibano MVJ.
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