No começo de mês de maio, a organização ETA¹ anunciou sua dissolução e o desmantelamento de todas as suas estruturas, como acúmulo das negociações pelo fim da luta armada, iniciadas em 2011. O fim do ETA serviu ao governo e aos meios de comunicação da oligarquia para lançarem-se numa campanha midiática de manipulação e tergiversação da realidade, insistindo até a exaustão na “derrota histórica da organização”, na “vitória da democracia”, na “dor gratuita causada por seus assassinatos”, no “caráter criminal e mafioso do grupo”, etc.
Porém, sobretudo, insistiram que não se deve permitir que se imponham o relato do ETA na análise do que ocorreu no País Basco nos últimos 60 anos. Tudo se reduz a que um punhado de assassinos causou um imenso dano e devem pedir perdão a suas vítimas. Fora disso seria fazer o jogo do ETA, mesmo que seja de um ponto de vista histórico.
Mas a realidade é muito mais complexa que a mensagem que nos enviam os meios de comunicação dominantes. No País Basco existiu – e existe – um problema político, e o ETA desempenhou um papel fundamental neste conflito. Isso é inegável. Sem esta problemática de caráter nacional, o ETA não teria aparecido nem conseguido os importantes apoios sociais que recebeu. Pode-se discutir o emprego da luta armada, mas uma parte importante da sociedade espanhola não considerou um crime terrorista o atentado que custou a vida de Carrero Blanco².
É preciso relembrar que o franquismo foi um regime fascista, que empregava uma violência brutal contra a população civil, e que a luta armada contra a ditadura era perfeitamente legítima. Se falamos de terrorismo, este qualificativo deve ser empregado, em primeiro lugar, ao regime franquista. No relato histórico sobre o ETA é necessário falar da dor das vítimas e das pessoas inocentes assassinadas, mas também é preciso integrar muitos outros elementos: as torturas selvagens das quais foram vítimas milhares de bascos nas delegacias e quartéis da Guarda Civil; o terrorismo de Estado e a repressão brutal sobre amplos segmentos da sociedade basca.
O maniqueísmo do governo e seus aliados pretende confundir a sociedade espanhola e criminalizar setores do povo basco. Não têm estatura moral os que afirmam que sempre estarão no lado das vítimas do ETA, mas se negam a condenar os crimes do franquismo e rechaçam sistematicamente as petições de “verdade, justiça e reparação” que lhes exigem os familiares das vítimas da ditadura.
Aqui há uma dupla régua, e não pode ser de outro modo, porque o Partido Popular e a monarquia são herdeiros diretos do franquismo, uma ditadura genocida, cujo selvagerismo repressivo foi determinante na aparição do ETA. No País Basco, como na Catalunha, existe uma questão nacional a qual é preciso dar uma solução política. O primeiro passo para alcançar o passo pela superação do atual marco político monárquico e a proclamação da III República.
Jornal Outubro, nº 115
PARTIDO COMUNISTA DA ESPANHA (MARXISTA-LENINISTA)
Notas:
- ETA: Euskadi Ta Askatasuna, em basco, que significa “Pátria Basca e Liberdade”.
- Carrero Blanco: Militar que ocupou diversos cargos no governo franquista, sendo assassinado em 1973, quando era presidente da Espanha, durante a etapa final da ditadura no país.
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