Enquanto ousarem em nos levantar suas mãos, enquanto insistirem em nos dizer que não, enquanto persistir essa exploração, então continuaremos a tomar às ruas, encher as avenidas, perturbar os seus sonhos de burgueses capitalistas. Ainda não nos foi permitido dizer tudo, apresentar ao povo nossa visão da vida, esclarecer toda a razão desse sofrimento, a causa de toda miséria que nos condena ao lamento. Por isso as marchas, por isso a organização coletiva, se espalhando, tomando conta, correndo pelos quatro cantos como se fosse levada pelo vento.
Ainda não tomamos, definitivamente, as rédeas de nosso destino, nosso amanhã seguro, nosso descansar seguro e em berço esplendido. Ousaram nos tomar por bobos, nos chamar de inúteis, nos classificarem como meros descontentes; pois bem. Esses descontentes abriram seus olhos, desenharam o futuro, encontraram seu passado esquecido e recolheram pedras, erguendo castelos, fortalecendo barricadas, abrindo fronteiras, derrubando seus muros. Esse mesmo povo, explorado e esquecido, escravizado por séculos, aprenderam, sozinhos, como romper seus grilhões, quebrar suas correntes, sair do escuro.
“De um lado, uma barreira grande de soldados (mil e cem deles, segundo a TV) com roupas escuras e armas ameaçadoras; no outro uma barreira de jovens com coloridas bandeiras, protegidos por improvisado escudo de placas de metal (em número de cem, segundo a TV)¹” e, no meio disso tudo, um ensaio para um amanhã futuro.
Inconformados, não esperaremos que nos deem nada gratuitamente, quer seja piedade, paixão ou desculpas. Nem uma gota d’água sequer. Não esperaremos sentados os favores daqueles que nos oprimem, enganam, torturam e nos julgam. Matam nossos melhores homens e mulheres, filhos, filhas, em troco de se manterem em seu podre poder.
Enquanto não nos derem os outdoors, usaremos os muros, os tapumes, as paredes silenciosas das avenidas silenciosas. Faremos elas falarem, pronunciar nosso sonho, protesto, aviso de caminhar. Enquanto suas TVs despejarem suas mentiras, nossa Verdade se encherá de cores e de vozes, imagens de denúncias, uma alternativa diária. A classe trabalhadora destruirá, inevitavelmente, seus inimigos e propagadores de sua desgraça.
Para que nos serve o patrão, o corrupto, o falar macio do vendido, o porrete do tirano, as ordens daqueles que nos matam? Quem foi que decretou que estamos sozinhos, que somos tão poucos, e que só agora despertamos de um antigo sono que nos tomava? Quem sustentou, por tantos anos, a mentira de que os nossos heróis foram esquecidos e que seus sacrifícios foram inúteis, inválidos, um sonho inalcançável, uma desesperança?
“É absurdo tentar convencer um homem a amar uma pátria que lhe mata de fome”².
E enquanto abrirmos os jornais e vermos meninos perdendo suas vidas nadando no lixo, não haverá descanso. Por isso os gritos nas ruas, por isso a bandeira de luta, vermelha, erguida no alto, em todas as lutas. Por isso o sacrifício consciente, por isso Manoel Lisboa de Moura vive, por isso o Partido Comunista Revolucionário. Por isso lutamos. Sabemos que a vitória virá. “Amanhã vai ser outro dia”.
Cloves da Silva
(texto em homenagem ao 5º congresso do PCR)
Notas
¹: trecho da matéria “Êta, Juventude Corajosa!”, de Antonia Carrara, publicada no jornal A Verdade, edição nº156, pág. 7;
²: (escrito por Manoel Lisboa em 1972, publicado na revista Luta Ideológica, do PCR).
Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.