Nota do PCR sobre os acontecimentos no Equador
Após ser eleito presidente do Equador em 2009, prometendo realizar profundas transformações no país, o que chamou de uma “revolução cidadã”, Rafael Correa deixou de lado seu programa de mudanças e passou a adotar uma política neoliberal de arrocho dos salários dos funcionários públicos, cortes de verbas dos programas sociais, forte repressão ao movimento popular e total subserviência ao governo dos Estados Unidos.
A rebelião policial ocorrida no dia 29 de setembro não foi, portanto, um fato isolado. Há meses o movimento popular realiza greves e manifestações reivindicando melhores condições de vida e diálogo com o governo de Correa. Este, entretanto, se nega a dialogar com as entidades populares e manda prender todo aquele que critica seu governo, como fez com o estudante e presidente da Federação dos Estudantes Universitários do Equador (FEUE), Marcelo Rivera, preso há nove meses sob a infame acusação de terrorista.
Na realidade, uma intensa luta vem se desenvolvendo no Equador. De um lado, um povo consciente de seus direitos e de sua força, que não aceita que um governo humilhe o movimento sindical, os povos indígenas, os camponeses, os professores e os partidos de esquerda e desrespeite seus direitos. Do outro, um presidente que embora eleito pelo povo, se comporta de forma arrogante e ditatorial.
O golpe de Correa
No dia 29, os policias do país e grande parte das Forças Armadas se revoltaram contra a decisão arbitrária de Rafael Correa de pôr fim ao pagamento de bônus aos militares, o que levaria ao rebaixamento dos salários atuais em mais de 30%.
Sabendo da revolta, Correa, de forma premeditada, dirigiu-se ao Regimento de Quito, onde os policiais realizavam uma manifestação. Entrou no prédio e ninguém o agrediu ou mesmo tocou nele. Correa pediu um microfone e foi atendido pelos policiais, que esperavam que o presidente declarasse ser favorável à negociação. Mas Correa surpreendeu e começou a provocar os policiais dizendo: “Vocês são um grupo de bandidos ingratos”. “Se vocês querem matar o presidente, aqui está ele! Matem-me!”.
Os policiais começaram a gritar e Correa não conseguiu mais falar. Um assessor colocou uma máscara contra bombas de gás, as mesmas que Correa mandou a policia jogar contra os professores em greve. Estranhamente, Correa foi o único que passou mal. Nenhum assessor do presidente mesmo sem máscara cambaleou ou teve náusea.
Após a provocação, Correa pediu que o Exército o retirasse do quartel, embora não estivesse preso. Em seguida foi ao Palácio e deu entrevista acusando os policiais de pretenderem dar um golpe de estado.
Porém, foi o próprio Correa que deu o golpe contra a democracia do Equador ao decretar estado de exceção, suprimir a liberdade de organização, de expressão e de manifestação e dar ao Exército o direito de invadir casas e prender quem quiser sem autorização da Justiça. As medidas de Correa receberam imediato e firme apoio de Hillary Clinton, Secretaria de Estado dos Estados Unidos. Há mesmo suspeita que antes do decreto, Correa telefonou para a Casa Branca.
A democracia corre risco sim no Equador. Mas o principal conspirador contra ela é o próprio presidente Correa que quer governar de forma ditatorial como revelou seu decreto estabelecendo estado de sítio contra um povo que decidiu construir uma nação livre da dominação estrangeira e que não aceita mais ser enganado nem humilhado.
Este é o Rafael Correa sem máscara.
O povo equatoriano tem uma rica história de luta pela liberdade e sempre derrotou aqueles que o subestimaram. Hoje, vive mais um duro combate por sua independência e contra os traidores da pátria. Não é o primeiro nem o último, mas, ao final, vencerá, mais uma vez.
30 de setembro de 2010
Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR)
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