Ao contrário do que tentam fazer crer os meios de comunicação da burguesia, a queda do corrupto governo de Viktor Yanukovich, na Ucrânia, não foi fruto de revoltas espontâneas das massas, e sim de uma planejada intervenção direta dos EUA e de seus órgãos de espionagem (NSA e CIA) na política do país, como reconheceu a subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland, em palestra organizada pela petroleira Chevron. Segundo ela, os EUA investiram cinco bilhões de dólares em partidos e grupos de oposição ucranianos para eles defenderem uma maior integração com o Ocidente e organizarem os protestos contra o governo. Tática semelhante, os EUA adotaram ao financiar a ação do Taliban no Afeganistão, do Al Queda na Líbia e Síria e em Honduras, na Bolívia e na Venezuela. Trata-se de uma vergonhosa intromissão nos assuntos internos de outros países e uma grave violação da Carta das Nações Unidas, mas, os EUA, há tempo, agem e usam todas as armas para enfraquecer os concorrentes de seus bancos e monopólios capitalistas e para manter seu domínio no mundo. É claro que se não existisse um profundo descontentamento da população ucraniana com o enriquecimento da família do ex-presidente Yanukovich e com a feroz repressão do governo, que matou mais de 110 pessoas, a intervenção norte-americana não teria alcançado êxito. Não passa, pois, de uma grande hipocrisia, a afirmação de Barack Obama, presidente dos EUA, de que “os ucranianos devem poder escolher seu próprio futuro”.
Ao atuar para derrubar o governo Yanukovich, o objetivo dos EUA é enfraquecer economicamente a Rússia, que já tinha anunciado sua intenção de criar junto com a Ucrânia a Comunidade Econômica Euroasiática em 2015 e destina 25% das suas exportações para esse país, mas também militarmente, ao passar a influenciar o 2º exército mais numeroso da região e criar obstáculos para a presença da frota russa na Crimeia.
No entanto, a comemoração de grande parte da burguesia internacional com o novo governo ucraniano não durou muito. A Rússia, cuja burguesia quer seguir explorando a nação ucraniana, não reconheceu o governo interino, assumiu o controle dos aeroportos e portos das regiões sul e leste da Ucrânia, fechou a fronteira da Crimeia e ameaça invadir o país. Para adotar essas medidas, teve o apoio do Parlamento da Crimeia, que convocou um plebiscito para decidir sua separação da Ucrânia e a união com a Rússia. Como se sabe, a Rússia mantém na península de Crimeia uma estratégica base militar com 25 mil fuzileiros navais.
Capitalismo trouxe corrupção e desemprego para a Ucrânia
Por outro lado, apesar de Yanukovich só ter apoio das tropas russas que estão na Ucrânia, nenhum dos partidos que agora se candidatam a governar o país conseguirá ganhar a confiança e unificar o povo ucraniano, uma vez que seus líderes estão envolvidos em vários casos de corrupção e defendem abertamente a submissão do país ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos interesses da Alemanha e dos EUA. Aliás, o governo interino já negocia um empréstimo com o FMI que, como lhe é habitual, exige em contrapartida um plano econômico que reduza os salários e privatize empresas.
Na realidade, o retorno do regime capitalista à Ucrânia trouxe além do desemprego e da pobreza, a formação de partidos políticos corruptos e de organizações neonazistas. Tanto o ex-presidente Viktor Yanukovich, que agora se encontra refugiado, quanto a líder do principal partido de oposição, o Pátria,Yulia Timoshenko, formaram suas fortunas com o processo de privatização que ocorreu no país após o fim do socialismo. Yulia, apesar de apresentar-se hoje como vítima, foi uma das maiores beneficiárias das privatizações, tornando-se proprietária da principal distribuidora de gás; sua família e sócios são donos de grandes empresas no setor industrial, e financeiro, na maioria ex-estatais. O ex-primeiro ministro Pavlo Lazarenko, também membro do Partido Pátria, após vários golpes, chegou a ser preso na Suíça e condenado por lavagem de dinheiro e fraude nos Estados Unidos.
A família do deposto Viktor Yanukovich também é dona de importantes empresas. Seu filho Aleksandr Yanukovich é a quinta pessoa mais rica da Ucrânia, fortuna adquirida após seu pai se tornar chefe de governo e com o aluguel ao governo de helicópteros que eram do Estado e foram privatizados.
Vitali Klitschko, campeão de boxe que se transformou no líder do Partido Udar (soco), candidato favorito nas pesquisas, recebeu milhões de euros do partido de Angela Merkel, razão pela qual não tem a simpatia dos norte-americanos, e prega “um país moderno com padrões europeus”.
Outros partidos apresentados pela mídia burguesa como democratas são claramente de ultradireita e defendem a instalação de um regime nazista na Ucrânia. É o caso de Aleksandr Muzychko, um dos líderes dos protestos em Kiev e chefe da Organização Fascista Ucraniana, que tem como meta lutar contra “os comunistas, os judeus e os russos”. Fãs do nazista Goebbels, adoram queimar livros e quadros comunistas, pois creditam a estes a expulsão das tropas de Hitler da Ucrânia.
Portanto, como num raro ato de sinceridade disse o fascista Vladimir Puttin, o que acontece na Ucrânia, é a “substituição de um grupo de bandidos por outro”.
Mas, além da fabricação de partidos corruptos e fascistas, o capitalismo criou desemprego, prostituição e drogas na Ucrânia.
De fato, devido à enxurrada de demissões que ocorreu com as privatizações das empresas públicas, milhões de ucranianos abandonaram o país em busca de emprego. Em 1991, a Ucrânia tinha 52 milhões de pessoas, hoje, são 45 milhões. O país também se tornou um dos mais desiguais do mundo, o de maior índice de alcoolismo infantil da Europa e 1,3% da população vive com AIDS. Além disso, possui 2 milhões de viciados em drogas e o tráfico de mulheres cresce para alimentar as agências de prostituição da Europa e dos EUA.
É evidente que esses usuários de drogas tornaram-se presas fáceis para as quadrilhas de traficantes e as organizações fascistas, formando grupos paramilitares para praticar roubos, ataques a órgãos públicos e violência indiscriminada para ampliar o clima de instabilidade política e social em Kiev. Ademais, a decisão do governo de Yanukovich de não assinar o acordo com a União Europeia, enfureceu milhões de pessoas que contavam com o passaporte europeu para poder trabalhar na Europa sem discriminação. Segundo a Organização Internacional para Migrações, 14,4% da população, cerca de 6,5 milhões de pessoas, são imigrantes. Lembramos que durante as décadas em que viveu num sistema socialista, o povo ucraniano não conhecia nem drogas nem prostituição, muito menos o desemprego, e vivia em profunda harmonia e sem intervenção estrangeira.
De olho nas riquezas do povo ucraniano
Apesar de todas essas tragédias, resultado da apropriação das riquezas do país pelas oligarquias ucranianas e pela burguesia internacional, a Ucrânia é uma nação rica. É o país da Europa que possui a melhor terra agrícola, 25% das chamadas “terras negras” existentes no mundo, terras que não necessitam de fertilizante por serem ricas em húmus, tem grandes quantidades de manganês, ferro, urânio, carbono e petróleo, e, graças ao socialismo, o país possui uma mão de obra extremamente qualificada e considerada barata pelas indústrias capitalistas, além de um desenvolvido setor de aeronáutica de equipamentos industriais. Devido ao seu solo fértil, e de ser um dos maiores exportadores de grãos do mundo, é alvo da cobiça dos bancos e das multinacionais que dominam a agricultura mundial.
A Rússia, por sua vez, como tem demonstrado, não descarta uma invasão militar à Ucrânia para garantir seus privilégios. Pouco teme as sanções econômicas da Europa, pois sabe que 75% do gás russo que vai para a União Europeia atravessa o território ucraniano. Nesse quadro, é grande a possibilidade de uma divisão no país a exemplo do que foi feito pelo imperialismo na Iugoslávia.
O fato é que a continuidade da crise do capitalismo iniciada em 2008, crise essa que completa seis anos em setembro vindouro, acirra a disputa entre a burguesia e seus estados pelo mercado e para controlar matérias-primas, seja petróleo, gás ou a terra.
Sem dúvida, como já advertimos, os países imperialistas seguem ampliando os conflitos e as guerras com o objetivo de escravizar povos e aumentar os lucros da oligarquia financeira que domina a economia do planeta. Para isso, derrubam governos e invadem países. A guerra parece não ter fim no Afeganistão nem no Iraque, continua na Líbia e na Síria, e outra pode começar na Ucrânia. Por isso, a qualquer hora um “erro de cálculo” de qualquer um dos governos imperialistas pode desencadear uma guerra de proporções tais que ponha em risco toda a humanidade. Não se deve subestimar a cobiça e a obstinação desmedida pelo dinheiro dessa minoria exploradora, bancos e monopólios capitalistas, que só pensam em luxo e riqueza. Estes sim, verdadeiramente um bando de loucos, e o quanto antes devem ser mandados não para um hospício, mas para a lata de lixo da história.
Luiz Falcão é membro do Comitê Central do PCR e diretor de A Verdade
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