Graças à imediata solidariedade de centenas e milhares de pessoas de Recife, Olinda, Jaboatão e de várias cidades do país, que, indignadas, se mobilizaram pela minha libertação e aos advogados do movimento popular, estou entre meus familiares, companheiros(as) e amigos(as) neste tão importante instante de confraternização universal entre os homens e mulheres de boa vontade.
Os justos se levantaram contra a injustiça da minha prisão, que tinha como objetivo intimidar e criminalizar a nossa luta em favor da justiça social e da oportunidade de igualdade para todos. Querem criminalizar as ações por justiça e solidariedade de todos os lutadores populares dos movimentos sociais.
Fui acusado por um delegado, a mando dos donos dos shoppings, sem que eu tomasse conhecimento, de ser “delinquente,” “ameaçador” da ordem pública e de extorquir lojistas destes novos templos do consumismo.
Porém, todos os homens e mulheres conscientes sabem que quem, de fato, ameaça a ordem pública é a fome, a miséria de milhões de cidadãos e cidadãs brasileiras sem teto, sem terra e sem trabalho digno. Todos os homens e mulheres conscientes já sabem que quem pratica a extorsão são os grandes proprietários dos bancos, da indústria e do comércio contra os trabalhadores e consumidores, principalmente, nesta época do ano, de forma acintosa e sem qualquer punição por parte de delegados ou juízes.
Nesta data dos festejos de Natal e Ano Novo, em que se celebram o nascimento de um homem que é um dos maiores modelos de despojamento e de solidariedade, espera-se que, pelo menos nesta data, predomine o espírito de solidariedade, de partilha do pão e do vinho.
O nosso movimento luta, com convicção e determinação, para que amanhã todos e todas possam ter casa, comida, trabalho digno, creche e universidade para seus filhos, por todos os dias do ano e durante toda a vida. Será que querer e lutar por isso é ser delinquente?
Estou sendo processado (até hoje meu advogado não teve acesso ao processo) pelo crime de reunir quatro centenas de famílias, que não tinham dinheiro para comprar a cesta básica deste Natal. Esta atividade justa e humana faz parte da campanha Natal sem Fome e sem Miséria, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) de forma exitosa, há anos e em várias capitais do Brasil.
Esta prisão serviu para unir mais ainda o MLB e o conjunto dos diversos movimentos de luta pela moradia e de nossa Central de Movimentos Populares (CMP). Serviu também para desmascarar o caráter de classe dos shoppings, dos seus proprietários, falsos incentivadores das comemorações do nascimento de Jesus, que nasceu, viveu, lutou e morreu pelos pobres. Encobertos, principalmente, nesta data, pela massiva publicidade em torno do Natal e do “bom velhinho,” entretanto, eles visam tão somente à sua insaciável sede de lucro, às custas da exploração e crescente endividamento da população trabalhadora.
Como sabemos, na injusta sociedade em que vivemos, os capitalistas praticam a extorsão por meio da elevação dos juros bancários, do constante aumento dos preços das mercadorias, mas, sobretudo, através da terrível exploração da nossa força de trabalho. Vivemos uma verdadeira escravidão assalariada, negócio por meio do qual os patrões ficam cada vez mais ricos e os trabalhadores cada vez mais pobres e sujeitos à agiotagem.
Quero agradecer a todos os companheiros e companheiras do MLB, militantes e lideranças dos diversos movimentos sociais, principalmente aos que lutam pela moradia e pela Reforma Urbana, que, de maneira unitária e combativa, fizeram vigílias em frente ao presídio (COTEL) na cidade de Abreu e Lima e diante do Fórum Tomaz de Aquino, em Recife, na hora do desembargador despachar o habeas corpus para relaxar o mandado de prisão preventiva e para que eu possa responder em liberdade.
O requerimento foi assinado por Dr. Marcelo Santa Cruz e acompanhado por Dr. Eduardo Chaves Pandolfi, Dr. Abnes Canario, Dr. Carlos, Dra. Maria José do Amaral, Dr. Vinicius Campos e dos companheiros Thiago Santos e Manoel Moraes, estudantes de Direito e membros respectivos do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco e da Comissão Memória e Verdade Dom Helder Câmara de Pernambuco.
Quero agradecer também aos companheiros do meu partido, o Partido Comunista Revolucionário (PCR), a alguns militantes e parlamentares do Partido dos Trabalhadores (PT) e de outros partidos progressistas que se mobilizaram pela minha liberdade.
Quero agradecer, especialmente, à minha esposa e aos meus filhos, que não se intimidaram diante das ameaças dos policiais, tendo um deles sacado a arma e apontado para a minha filha menor de idade, enquanto, de forma truculenta, me algemava nas grades do portão de minha casa, até chegar o camburão da PM, sendo eu réu primário e portador de diploma de curso superior (História).
Finalmente, quero dizer-lhes que o apoio recebido fortaleceu ainda mais a minha convicção de continuar firme na luta até conquistarmos uma sociedade sem a exploração do homem pelo homem.
Desejo a todos e a todas um feliz Ano Novo e que esta prisão/libertação sirva de lição a todos nós para superarmos a ilusão de classe de que vivemos no Estado de direto democrático, pois isto é verdade apenas para a burguesia e seus filhos.
Que, em 2014, possamos realizar mais lutas e conquistas para o nosso povo.
Despeço-me com o pensamento inesquecível do combatente da democracia socialista e da soberania dos povos da América Latina, Ernesto Che Guevara:
“Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.”
Por um feliz 2014,
Serginaldo Querino dos Santos
Olinda, 01 de janeiro de 2013
Comments are closed, but trackbacks and pingbacks are open.