“A revolução é inevitável na América Latina”

fidel-cheEsmagando a Revolução cubana acreditam dissipar o medo que os atormenta, o fantasma da revolução que os ameaça. Liquidando a Revolução cubana, acreditam liquidar o espírito revolucionário dos povos. Pretendem, em seu delírio, que Cuba é exportadora de revolução. Em suas mentes de negociantes e usurários insones cabe a ideia de que as revoluções se podem comprar ou vender, alugar, emprestar, exportar ou importar como qualquer mercadoria. Ignorantes das leis objetivas que regem o desenvolvimento das sociedades humanas, creem que seus regimes monopolistas, capitalistas e semifeudais são eternos. Educados em sua própria ideologia reacionária, mescla de superstição, ignorância, subjetivismo, pragmatismo e outras aberrações do pensamento formam uma imagem do mundo e da marcha da História acomodada a seus interesses de classes exploradoras. Supõem que as revoluções nascem ou morrem no cérebro dos indivíduos ou por efeito de leis divinas e que, inclusive, os deuses estão do seu lado. Sempre tiveram a mesma crença, desde os devotos pagãos patrícios da Roma escravista, que lançavam os cristãos primitivos aos leões do circo, passando pelos inquisidores da Idade Média que, como guardiões do feudalismo e da monarquia absoluta, imolavam na fogueira os primeiros representantes do pensamento liberal da nascente burguesia, até os bispos de hoje que, em defesa do regime burguês e monopolista, anatematizam as revoluções proletárias. Todas as classes reacionárias em todas as épocas históricas, quando o antagonismo entre exploradores e explorados chega à sua tensão máxima, pressagiando o advento de um novo regime social, recorreram às piores armas da repressão e da calúnia contra seus adversários. Acusados de incendiar Roma e de sacrificar crianças em seus altares, os cristãos primitivos foram levados ao martírio. Acusados de hereges, foram levados à fogueira, pelos inquisidores, filósofos como Giordano Bruno, reformadores como Hus e milhares de não conformados com a ordem feudal. Hoje é sobre os lutadores proletários que se lança a perseguição e o crime, precedidos das piores calúnias na imprensa monopolista e burguesa. Sempre em cada época histórica as classes dominantes assassinaram, invocando a defesa da sociedade ( sua “sociedade” de minorias privilegiadas sobre as maiorias exploradas), a defesa da ordem ( a “ordem” que beneficia sua classe e que se mantém, a sangue e fogo, com o sacrifício dos despojados), a defesa da pátria ( a “pátria” cujo desfrute pertence a eles somente, com a exclusão de todo o imenso resto do povo), para reprimir os revolucionários que aspiram a uma sociedade nova, uma ordem justa e uma pátria verdadeira para todos.

Mas o desenvolvimento da história, a marcha ascendente da humanidade não se detém nem pode deter-se. As forças que impelem os povos, que são os verdadeiros construtores da história, determinadas pelas condições materiais de sua existência e pela aspiração a metas superiores de bem-estar e liberdade, que surgem quando o progresso do homem no campo da ciência, da técnica e da cultura o tornam possível são superiores à vontade e ao terror que desencadeiam as oligarquias dominantes.

As condições subjetivas de cada país, isto é, o fator consciência, organização, direção podem acelerar ou atrasar a revolução, segundo seu maior ou menor grau de desenvolvimento, mas, mais cedo ou mais tarde, em cada época histórica, quando as condições objetivas amadurecem, se adquire a consciência e se consegue a organização, a direção surge e a revolução se produz.

Que esta se faça por meios pacíficos ou que nasça depois de um parto doloroso, não depende dos revolucionários: depende das forças reacionárias da velha sociedade, que resistem ao nascimento da sociedade nova, engendrada pelas contradições que leva em seu seio a velha sociedade. A revolução é, na História como o médico que assiste ao nascimento de uma nova vida. Não usa sem necessidade o fórceps, mas usa-o sem vacilações sempre que for indispensável para ajudar o parto. Parto que traz para as massas escravizadas e exploradas a esperança de uma vida melhor.

Em muitos países da América Latina a revolução é hoje inevitável. Esse fato não é determinado pela vontade de ninguém. Está determinado pelas espantosas condições de exploração em que vive o homem americano, o desenvolvimento da consciência revolucionária das massas, a crise mundial do imperialismo e o movimento universal de luta dos povos subjugados.

A inquietação que hoje se verifica é sintoma inequívoco de rebelião. Agitam-se as entranhas de um Continente que foi testemunha de quatro séculos de exploração escravista, semi-escravista e feudal do homem desde seus habitantes aborígenes e os escravos trazidos da África até os núcleos nacionais que surgiram depois: brancos, negros, mulatos, mestiços e índios, hoje irmanados em face do desprezo, a humilhação e o jugo ianque e irmanados também na esperança de um mundo melhor.

Os povos da América libertaram-se da colonização espanhola em princípios do século passado, mas não se libertaram da exploração. Os senhores de terras feudais assumiram a autoridade em lugar dos governantes espanhóis, e os índios continuaram em penosa servidão. O homem latino-americano, de uma ou de outra maneira, continuou escravo, e as menores esperanças dos povos sucumbiram sob o poder das oligarquias em cumplicidade com o capital estrangeiro. Esta tem sido a verdade da América Latina, com uma ou outra variação, com uma ou outra nuance. Hoje, a América Latina sofre a dominação de um imperialismo mais feroz, muito mais poderoso e mais implacável do que o império colonial espanhol.

E ante a realidade objetiva e historicamente inexorável da revolução latino-americana, qual é a atitude do imperialismo ianque? Dispõe-se a empreender uma guerra colonial contra os povos da América Latina; cria o aparelho de força, os pretextos políticos e os instrumentos pseudolegais com o assentimento dos representantes das oligarquias reacionárias para reprimir a sangue e fogo a luta dos povos latino-americanos.

(Trecho da II Declaração de Havana – Lida por Fidel Castro e ratificada pelo povo cubano na praça José Martí, em 2 de fevereiro de 1962)

 

Até sempre, comandante!

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