Convocada por centrais, sindicatos e movimentos sociais, a greve geral contra as reformas de Temer e dos banqueiros contou com a participação de 40 milhões de trabalhadores em todo país. Ruas, avenidas e estações praticamente vazias ao longo do dia nas principais cidades brasileiras demonstraram que a população aderiu em massa ao movimento.
Em São Paulo, metrô, ônibus e trens não circularam, e as principais avenidas e vias de acesso à cidade foram trancadas por manifestantes. Mais de mil integrantes da Frente Povo Sem Medo interromperam o acesso ao aeroporto de Guarulhos, e categorias como bancários, metalúrgicos, químicos, petroleiros, professores e servidores públicos também paralisaram suas atividades. Mais tarde, aproximadamente 70 mil pessoas se reuniram no Largo da Batata, zona oeste da capital paulista, e caminharam em direção à casa de Michel Temer.
No Rio de Janeiro, as primeiras horas do dia foram marcadas por trancamentos na Ponte Rio-Niterói, Avenida Brasil, Radial Oeste e Linha Vermelha, interditada por quase duas horas por manifestantes ligados ao Movimento Luta de Classes e à União da Juventude Rebelião. Professores, bancários e estivadores cruzaram os braços. Vários voos saindo do aeroporto Santos Dumont foram cancelados. Em Duque de Caxias, petroleiros e terceirizados fecharam a Refinaria da Petrobras. Em Campos dos Goytacazes, norte fluminense, as atividades da greve duraram o dia todo e cerca de 1.500 pessoas participaram do ato no centro da cidade. Ao longo da semana, brigadistas de A Verdade ocuparam os trens da Central do Brasil convocando a população para a greve.
Em Belo Horizonte, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas trancou a saída do Terminal Rodoviário Diamante, na região do Barreiro. A BR-040, que liga a capital mineira ao Rio de Janeiro, e a BR-116, em Governador Valadares, foram interditadas. Metroviários, rodoviários, metalúrgicos, professores das redes pública e privada, bancários, servidores da UFMG, urbanitários, comerciários, funcionários dos Correios, policiais civis, agentes penitenciários e trabalhadores da MGS aderiram em peso à greve. Uma grande marcha saiu da Praça da Estação rumo à Praça da Assembleia, reunindo mais de 100 mil pessoas.
Em Brasília, rodoviários, metroviários, bancários, professores da rede pública e privada, servidores do governo do DF, além de técnicos e professores da Universidade de Brasília (UnB), se somaram à paralisação.
Em Goiás, ocorreram paralisações, trancaços e marchas em 25 cidades, totalizando mais de 100 mil manifestantes. Em Goiânia, empresas de ônibus foram fechadas pelo sindicato dos rodoviários. Cerca de 70 mil pessoas participaram do ato na Praça dos Bandeirantes, no centro da cidade.
Em Porto Alegre, a Avenida Mauá, principal acesso à cidade, foi interditada pelo MLB, Movimento de Mulheres Olga Benario e pelas ocupações Lanceiros Negros e Mulheres Mirabal. Em Guaíba, na região metropolitana, e Passo Fundo, no interior do estado, também houve atividades da greve. O Centro Administrativo, as sedes da Procuradoria Geral do Estado e do Ministério Público, a Secretaria de Saúde e os Correios foram fechados pelos sindicatos e movimentos. À tarde, mais de 30 mil pessoas saíram em passeata pelo centro da capital gaúcha contra as reformas da previdência e trabalhista.
Em Pernambuco, foram realizados trancaços nas BR-101 e 232. A Avenida Caxangá, no Recife, foi interditada pelo MLB. Operadores de telemarketing, trabalhadores do Hospital da Restauração e garis organizados pelo Movimento Luta de Classes aderiram à greve. Também participaram da greve rodoviários, metroviários, bancários, servidores da UFRPE, UFPE, UPE e algumas universidades particulares, além de professores da rede pública e privada. À tarde, 100 mil pessoas se concentraram na Praça do Derby e saíram em caminhada até a Praça da Independência. Em Caruaru, trabalhadores da limpeza urbana cruzaram os braços e participaram da manifestação no centro da cidade. Em Petrolina, foi realizado um grande ato na ponte Juazeiro-Petrolina, divisa de Pernambuco com a Bahia. Os militantes do jornal A Verdade venderam em todo o Estado 165 exemplares.
No Ceará, petroleiros organizados pelo Sindipetro CE/PI e pelo MLC fecharam a refinaria Lubnor. Já o sindicato dos rodoviários e o MLB impediram a saída dos ônibus das garagens ainda de madrugada. As redações dos dois principais jornais do estado foram fechadas pelo Sindicato dos Jornalistas. Em seguida, bancários, professores, servidores públicos federais de diversos órgãos da União, petroleiros, comerciários, trabalhadores da construção civil e dos Correios, rodoviários e estudantes promoveram uma grande marcha que percorreu as ruas do centro de Fortaleza, reunindo mais de 100 mil pessoas. No Crato, cidade do interior do Ceará, militantes da UJR fortaleceram a manifestação organizada por sindicatos locais. Na Capital, foram 66 jornais A Verdade vendidos na brigada.
Na Paraíba, cerca de 10 mil pessoas foram às ruas de João Pessoa contra as reformas de Temer e dos banqueiros. Logo cedo, o Sindlimp-PB e o MLC garantiram 100% de adesão à greve dos trabalhadores da limpeza urbana, que ainda saíram em passeata para apoiar o trancamento de duas avenidas da cidade. Foram vendidos 56 exemplares de A Verdade na brigada feita pelos militantes da UJR.
Em Salvador, rodoviários, bancários, professores das redes estadual e municipal, petroleiros, além de servidores municipais, da Justiça e do Ministério Público Estadual, pararam suas atividades. Os brigadistas de A Verdade venderam 191 jornais.
Em Natal, rodoviários, ferroviários, portuários, policiais civis e trabalhadores dos Correios, Saúde, Educação, UFRN, IFRN e limpeza urbana paralisaram suas atividades durante o dia. À tarde, cerca de 70 mil pessoas participaram da marcha rumo à Praça Cívica, no centro.
Em Teresina, 38 categorias aderiram à greve geral, entre elas comerciários, rodoviários, professores, bancários e Correios. Em seguida, 5 mil pessoas saíram em passeata pelo centro da cidade aos gritos de “Fora Temer”. A militância da Unidade Popular esteve presente com bandeiras e faixas e vendeu 79 jornais A Verdade na brigada.
Em Alagoas, também foi grande a adesão à greve geral. Cerca de dez rodovias foram bloqueadas em todo o estado e atos realizados em Arapiraca, Capani e Maceió. Na capital, ônibus e trens pararam. Bancos, universidades, IFAL, Receita Federal, Eletrobrás e TRT não funcionaram. À tarde, 30 mil pessoas tomaram as ruas de Maceió até a Praça dos Martírios, no centro.
Em Belém, portuários ocuparam a Companhia Docas do Pará e trancaram as ruas de acesso ao mercado Ver-o-Peso, no centro da cidade. Bancários, professores, trabalhadores dos Correios e operários da construção civil paralisaram suas atividades e se concentraram na Praça da República, onde uma marcha reuniu mais de 10 mil pessoas.
Repressão
Em várias cidades, a polícia reprimiu as manifestações com violência. Em São Paulo, manifestantes foram agredidos por policiais que tentavam desbloquear as avenidas interditadas. Três integrantes do MTST foram presos acusados por associação criminosa, explosão e incêndio. No começo da noite, grevistas que seguiam para a rua da casa de Temer foram dispersados pela PM com bombas de gás lacrimogêneo.
Segundo o advogado Ramon Koelle, que prestava assistência aos manifestantes presos, a ação da polícia visou a criminalizar os protestos contra as reformas. “É a criminalização de uma luta política, de uma pauta que defende o direito de todos os trabalhadores e do povo do nosso país. Parece que, para o delegado, se unir para reivindicar contra a retirada de direitos virou associação criminosa”. Pelo menos outras 14 pessoas foram detidas na capital paulista durante a greve.
No Rio de Janeiro, o Batalhão de Choque da PM agiu com truculência e covardia contra a manifestação que seguia pacífica pelo centro da cidade. Mais de 50 mil pessoas caminhavam até a Cinelândia quando foram surpreendidas por bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo atiradas pela polícia. Em seguida, uma grande confusão tomou conta do centro. Inúmeras pessoas ficaram feridas. “Nada justifica a investida, com bombas e cassetetes, contra uma multidão que protestava de modo pacífico. O ataque com métodos de tocaia e a posterior perseguição por vários bairros a pessoas que exerciam seu direito à manifestação representa grave atentado à Constituição e ao Estado democrático de Direito”, afirmou o presidente da OAB/RJ, Felipe Santa Cruz.
Mobilização histórica
Apesar disso, centenas de categorias cruzaram os braços nos 26 estados e no Distrito Federal contra as reformas previdenciária, trabalhista e a terceirização. Por todo o país, sindicatos e movimentos sociais promoveram a maior greve geral de nossa história desde 1917, quando ocorreu a primeira greve geral do Brasil.
Para o presidente nacional da Unidade Popular (UP), Leonardo Péricles, a grande adesão à greve ajudará a mudar a correlação de forças na luta contra as reformas. “Se esse governo golpista, juntamente com os deputados e senadores, não voltar atrás nessas medidas que destroem a Previdência e os direitos trabalhistas, precisamos organizar uma grande mobilização rumo a Brasília e cercar o Congresso Nacional para exigir que revoguem a Lei da Terceirização e a Reforma Trabalhista e enterrem a Reforma da Previdência. A força que a classe trabalhadora demonstrou no dia 28 de abril indica que temos condições de derrotar as reformas e de derrubar o próprio governo golpista de Temer e dos banqueiros”.
Heron Barroso, Rio de Janeiro
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