Viva os 50 anos de fundação do PCR!

É com um profundo sentimento de amor que os comunistas revolucionários do Brasil celebram, neste dia 21 de fevereiro, os 72 anos do nascimento do nosso imortal comandante, o camarada Manoel Lisboa. A sua vida curta, porém, extremamente fecunda, foi toda dedicada a semear, com fé ilimitada, a necessidade da organização de um verdadeiro Partido Comunista Revolucionário e da prática da solidariedade militante no coração generoso dos operários, dos explorados e oprimidos para transformar este mundo desigual e injusto em que vivemos na “terra prometida”, uma terra de justiça e felicidades sem fim, o mundo comunista, que, por necessidade histórica, já vem vindo.

Por isso, com muita honra, festa e trabalho, celebraremos no decorrer do mês de maio e de todo o ano de 2016 os 50 anos da fundação do Partido Comunista Revolucionário (PCR). Um Partido de novo tipo, fundado em maio de 1966, em Recife, por Manoel Lisboa, Amaro Luiz de Carvalho, Valmir Costa, Selma Bandeira, Ricardo Zarattini Filho, entre outros.

Essa histórica reunião, realizada sob rigorosas normas do trabalho político clandestino, pela sua profundidade e significação política, teve a equivalência do seu primeiro Congresso. Aprovou o nome do Partido, o marxismo-leninismo e o centralismo democrático como única doutrina e método válido para guiar o desenvolvimento da luta ideológica e política no interior do Partido, sua linha política, elegeu sua Direção, seu Órgão Central (A Luta), as normas de segurança e política de finanças, tendo como linha básica buscar nas massas fundamentais da revolução a sustentação do PCR e da revolução. A convocação deste evento somente aconteceu depois do pleno esgotamento de uma longa luta ideológica com o CC do PCdoB e da constatação da sua passagem para o revisionismo dos princípios de organização leninistas e para o oportunismo político.

Historicamente, a fundação do PCR veio separar, de modo irreversível, os comunistas revolucionários dos revisionistas e oportunistas de direita e de esquerda no Brasil, seja dos seguidores dos kruschovistas, descarados traidores da revolução bolchevique do proletariado soviético, seja dos seguidores do PC da China, embuçados traidores da revolução do bravo povo trabalhador chinês.

Quem foi Manoel Lisboa de Moura? 

Manoel nasceu no dia 21 de fevereiro de 1944, na cidade de Maceió, Alagoas. Filho de Iracilda Lisboa de Moura e de Augusto de Moura Castro, uma família pertencente à classe média alagoana, em que nada lhe faltava do ponto de vista material. Já como estudante do Liceu, hoje, Colégio Estadual de Alagoas, ainda adolescente, tornara-se um dedicado militante do Grêmio Estudantil da sua escola e da União dos Estudantes Secundaristas de Alagoas (Uesa). Sentia um ardente desejo de estudar filosofia, economia, sociologia, o marxismo-leninismo, para compreender as causas da monstruosa desigualdade social. As gritantes injustiças, as guerras, o sofrimento de milhões de seres humanos sem comida, sem teto para morar, sem poder tratar suas doenças, sem escolas para seus filhos, deixavam-no verdadeiramente indignado.

No final dos anos 1950 e início dos anos 1960, enquanto seus amigos e vizinhos buscavam uma explicação para esta angústia nos sermões dominicais do padre da Paróquia do Farol, bairro onde nascera e morava, Manoel recorria à sede do Partido Comunista, no Centro de Maceió, para comprar livros, para estudá-los como quem degustava uma saborosa refeição, e, imediatamente, sair ao encontro dos amigos, professores e sindicalistas para repassar o conteúdo assimilado em meio a calorosas discussões. Eram obras de Marx, Engels, Lênin, Stálin, Dimitrov, Máximo Gorki, Caio Prado Jr, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Nelson Werneck Sodré, etc. Sem demora, Manoel ingressou nas fileiras da Juventude Comunista e do PCB, construindo um intenso e disciplinado trabalho de formação de novos núcleos, novas células para estudar o Manifesto do Partido Comunista. Criou novas frentes de agitação e círculos de contribuintes para sustentar as novas atividades de propaganda e de organização do Partido. Ao ingressar no curso de Medicina da UFAL, Manoel já era um militante revolucionário marxista culto; já como dirigente, tomado de entusiasmo revolucionário, assume o trabalho de construir a organização do Partido em toda a universidade. Assim, procurou valorizar as reivindicações dos servidores, atrair os professores com consciência social para o Partido. Aí dedicou parte das suas energias ao trabalho de unir e mobilizar os estudantes, impulsionando a luta por suas reivindicações mais sentidas, sempre explicitando na sua agitação que os estudantes só alcançarão sua vitória definitiva quando conquistarem a sua organização e marcharem sob a mesma direção e perspectiva do proletariado consciente, expressão das classes trabalhadoras, que é quem tudo produz, inclusive, o sustento das universidades, sem nela poder matricular seus filhos e nem poder habitar nos belos prédios de apartamentos por ela construídos.

Ele fez história

E, para levar estas ideias revolucionárias aos trabalhadores, dedicou-se a escrever para a imprensa do Partido, a imprimir um caráter revolucionário ao trabalho de massa e ao trabalho cultural, por meio de cine-debates, poesias, música, teatro, atividades desenvolvidas no Centro Popular de Cultural (CPC) da União Nacional dos Estudantes (UNE), como forma de elevar o nível de consciência dos estudantes e da classe operária alagoana. Terminou atraindo sempre em torno de si e do Partido as melhores pessoas das camadas mais combativas das massas. Tomou parte em algumas encenações de peças teatrais do tipo A mais-valia vai acabar, seu Edgar, de Vianinha; levou a cabo a apresentação da peça João Ninguém para os operários das docas no Porto das Alagoas, desempenhando, inclusive, o papel de ator e, depois da encenação, coordenava o debate entre a plateia de estivadores sobre a situação de vida da classe operária no Brasil e nos países onde a revolução socialista já tinha triunfado.

Estas atitudes demonstram que Manoel já tinha adquirido a consciência de, para acontecer a revolução, é necessário fundir o socialismo científico ao movimento operário e popular espontâneo. Para isso, o papel dirigente dos militantes e do Partido é fundamental. Ainda apontava para a necessidade de despertar a classe operária para a luta contra a Ditadura Miliar e para a direção do movimento democrático e revolucionário, como condição para o êxito da vitória dos trabalhadores sobre a burguesia. Desta concepção leninista, ele nunca se afastou um milímetro.

No dia do golpe militar fascista de 1º de abril de 1964, sua casa foi invadida por um bando armado de metralhadoras à sua procura. Manoel escapou com vida naquela ocasião graças ao espírito de altivez da sua mãe, Dona Iracilda, que pôs os policiais para fora de casa, dizendo que ele fora ao cinema, enquanto ela urgentemente providenciava um revólver com munição, dinheiro e um transporte para Manoel fazer uma retirada segura, pelo portão dos fundos.

Começa a saga heroica de um jovem revolucionário abnegado, cumpridor das normas de segurança do trabalho político clandestino até o fim de sua existência. Apesar de ter a polícia política o tempo todo no seu encalço, seguia sendo, como sempre foi, um revolucionário apaixonado, bem-humorado, destemido, de tipo leninista, estudando e lutando para transformar a realidade brasileira.

No enfrentamento das dificuldades próprias do trabalho clandestino, tinha especial predileção pelas obras Testemunho ao pé da forca, de Julius Fucik, O que todo revolucionário deve saber sobre a repressão, de Victor Serge, e Se fores preso, camarada, editado pela III Internacional, de Álvaro Cunhal.

Estudava com prazer para se apropriar dos conhecimentos científicos, seja dos autores brasileiros seja dos clássicos do marxismo-leninismo, da literatura internacional, como O Capital, tudo dentro de um disciplinado e metódico plano de estudo, incluindo francês, inglês e alemão. Conhecia bem a obra de Dante Aliglieri (A Divina Comédia) e de Honoré de Balzac (A Comédia Humana). O estudo da literatura e da arte preenchia bem as suas horas vagas deixadas pelas imprevisões da vida clandestina, de modo a ocupar todo o seu tempo. Ainda achava tempo para exercícios físicos e prática de futebol, quando possível; tinha seu time preferido, o Santa Cruz, mas jamais se permitia entrar em discussões sectárias. Pelo contrário, de tudo se servia para permutar e aumentar seus conhecimentos e fortalecer as relações de camaradagem entre companheiros (as).

Graças à sua paixão pelos estudos, pelas questões teóricas da revolução brasileira, sua enérgica militância e ativa participação nos debates orgânicos e conferências do Partido, cedo descobriu, com outros camaradas, que seguir militando no PCB não os levaria à revolução socialista no Brasil, em função do seu reformismo, legalismo e submissão à traição kruschovista, que se apoderou da direção do PCUS, no 20º Congresso, em 1956, e que já caminhava em direção à restauração do capitalismo na URSS. Assim ele enxergava e assim aconteceu depois.

Com seus veteranos camaradas Valmir Costa, Selma Bandeira, Amaro Luiz de Carvalho e dirigentes históricos como Diógenes de Arruda Câmara e Maurício Grabois, entre outros,  passa a trabalhar, com todas as suas energias, pela reorganização do Partido, com o nome de Partido Comunista do Brasil (PCdoB), em 1962, para manter erguida a bandeira do marxismo revolucionário e a perspectiva da revolução socialista no Brasil.

O julgamento da história

Duro foi perceber, logo após o golpe militar fascista de 1964, que o Comitê Central do PCdoB seguia praticamente os mesmos graves desvios revisionistas, agora, de natureza esquerdista e do velho seguidismo automático, só que, agora, em relação ao Partido Comunista da China, e ainda a submissão política à chamada burguesia nacional, como se pode ver no documento lançado à opinião pública, no início do primeiro semestre de 1966, intitulado União de todos os brasileiros para livrar o país da crise, da ditadura e da ameaça neocolonialista, “que até mesmo os setores mais moderados da burguesia poderiam assiná-lo”, criticou Manoel, na época. Do mesmo período, data também a Carta aberta a Fidel, na qual a direção do PCdoB tenta desqualificar a Revolução Cubana e seu líder, Fidel Castro, “para, assim, demonstrar de um modo servil sua ‘fidelidade’ ao PC da China”. Ora, tratava-se de respaldar, sem qualquer discussão, as divergências oportunistas, de cunho geopolítico, próprias das duas potências em marcha disfarçada para o capitalismo-imperialista em que se tornaram, a Rússia e a China e seus respectivos Partidos, o PCUS e o PCCh.

“Foi em abril de 1966 que alguns comunistas revolucionários, prevendo esse desenlace, se rebelaram contra a direção antiproletária do PCdoB”.

“Essa atitude firme e decidida dos comunistas revolucionários, a nossa intransigente decisão de forjar na luta de classe um Partido realmente revolucionário e proletário, de despertar e mobilizar as massas da região mais explorada do país pelos grupos monopolistas, o Nordeste, a inabalável convicção de que somente a guerra popular permitirá a conquista do poder político, tem resultado numa prática revolucionária “imperdoável” para os traidores e renegados dirigentes do PCdoB, que, por essa razão, nos dedicam um ódio sem limites. Têm desenvolvido e propalado contra os comunistas revolucionários toda sorte de mentiras, calúnias e infâmias.” (Editorial de A Luta) – nº 5, abril de 1968.

Recorremos a este documento, que já pertence à história, somente para comprovar a justeza e a inevitabilidade daquela ruptura também revolucionária dos comunistas revolucionários com os carreiristas do PCdoB. Quem poderá duvidar, hoje, da inquestionável degenerescência política e ideológica deste partido enquanto um partido comunista?

Manoel foi o mais destacado construtor do PCR, seu mais sábio e elevado dirigente, até o último instante da sua vida, quando já havia alcançado o mais alto patamar da consciência humana, a consciência comunista, que soberanamente sobrepõe o sentimento individualista, o interesse egoísta dentro si, herdado da cultura do regime da propriedade privada, com a força da sua profunda convicção comunista, da sua vigilante luta ideológica em defesa dos interesses do coletivo, do seu Partido, que representa a esperança da revolução proletária, a possibilidade da emancipação dos explorados e excluídos do Brasil e do mundo.

A interrupção abrupta da heroica vida de Manoel, aos 29 anos, em 04 de setembro de 1973, pelos torturadores fascistas do DOI-Codi, não impediu o desabrochar da sua obra mais importante, o Partido Comunista Revolucionário, que segue construindo o futuro luminoso dos trabalhadores e das trabalhadoras da cidade e do campo e especialmente da sua juventude.

Celebremos em todos os estados a heroica trajetória multiplicando os     efetivos do Partido fundado por Manoel Lisboa para triunfar com a classe operária!

Viva os 50 anos do Partido Comunista Revolucionário! 

Viva os 72 anos do nosso imortal comandante Manoel Lisboa! 

O PCR, vive, luta e avança!

Edival Nunes Cajá, membro do Comitê Central do PCR e presidente do CCML

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